5G e os Jetsons

Inventamos o IoT, a IA e o Metaverso. O que está faltando para sermos felizes?

16:14

Há alguns anos comecei um artigo e uma palestra com a seguinte pergunta retórica: "E o 2G ?". Já se falava no desligamento do 2G há muito tempo. Desde a chegada do 4G. E apesar da cobertura não avançar um milímetro há uns 10 anos, o crescimento de dispositivos 2G não parou, impulsionado pela venda barata de rastreadores e todo tipo de dispositivos. Alguns de procedência e qualidade bem duvidosa.

E isso é chover no molhado. Todo mundo sabe.

A questão de titular este artigo perguntando sobre o 5G é realmente perguntar como anda o fase-in da tecnologia em detrimento do fase-out de 2G. Isso porquê o 2G vai bem obrigado. O RAN Sharing tripartite garante mais alguns anos de cobertura meia boca. E a orquestra do Titanic continua tocando do lado de gente lançando novo rastreador 2G em pleno 2024, mesmo todo mundo sabendo que o ideal é fugir de ambos, do 2G e do Titanic.

Certo, mas e o 5G? Chego já lá. Deixa eu estagiar no 4G antes.

Quem tá no meio de telecom móvel sabe que existe uma organização chamada 3GPP (esqueça o 3G do nome e esqueça também a tecnologia). O importante é que ela reúne os principais players do mercado e define as premissas de cada tecnologia. Sendo assim, é preciso dizer que o 4G, na cabeça do 3GPP por volta de 2010, já tinha tecnologia prevista para atingir velocidades de 1gbps (1 gigabit por segundo, você leu correto) e latência possível de até 10ms!

A pergunta imediata é: por que não tinha isso no meu smartphone?

Vc pode se perguntar porque não tenho isso até hoje no meu Iphone? Porque uma coisa é sonhar com os Jetsons, a outra é ter tecnologia "comercialmente viável" na mão e em volumes consideráveis para alguém colocar dinheiro (dinheiro, dinheiro mesmo, 9 zeros) e tornar isso viável. Em 2008 não tínhamos a China e a Coreia com as demandas e IDHs populacionais que permitissem uma massa crítica, mas foi lá mesmo, em uma feira internacional dentro de um ônibus da Samsung à 100km/h que, antes mesmo de 2010  foi demonstrado ser possível. Mas não viável economicamente. Isso foi bem discutido por José Almeida no brilhante Mesacast IoT em foco sobre Desafios e o Futuro do Mercado.

Sempre que a 3GPP lança um Release as fabricantes que fazem parte deste consórcio já trabalham para lançar as funcionalidades pretendidas. Estamos no Release 18, no 5G Advanced e é por isso que sonhar com o que o 5G pode nos trazer ou com os Jetson, ainda tem uma distância, mas cada vez menor. Quando se coloca marqueteiramente o Advanced, Pro, Mega turbo extra power, é que a tecnologia que vc está usando já está defasada e tem gente olhando para a próxima, no caso o 6G. O Release existe, mas ainda não é comercialmente viável para todos os mortais.

O que é que já deveríamos ter então deste o 4G Adv Pro? A capacidade de colocar até 1000 dispositivos simultâneos trafegando por cada célula instalada. Velocidades e latências boas o suficiente para bater ou concorrer com as fibras do mercado. O complemento ideal para Internet Fixa-Móvel, o FWA em meio rural ou de última milha, em locais mais afastados dos grandes centros. Isso é volume. E também fazer M-Health de verdade que passou a ser urgente por conta da pandemia, por exemplo. E urgente significa colocar os 9 zero $ rapidamente, para atender uma massa crítica de bilhões de pessoas. Dá para entender que a urgência global fez o resto do serviço indolente de não investir o suficiente em tecnologia já existente.

A Tammannet tem mentorado empresas de IoT e MVNOs do mercado e ainda há muita demanda por projetos em que o 4G atende com folga, porém finalmente alguns projetos começam a fazer sentido com 5G slicing. Precisamos aculturar o mercado na formação de Integradores de projetos IoT, que não é uma panaceia e não resolve o problema do mundo, mas há uma montanha de oportunidades se formando nesse cenário, que é um dos focos da nossa consultoria.

No próximo artigo, não vou enrolar mais e só falo do 5G, prometo.